domingo, 23 de maio de 2010

Aquecimento global pode aumentar casos de malária na Amazônia, diz pesquisador



Pesquisadores coletam mosquitos em área próxima ao gasoduto Urucu-Coari-Manaus (Foto: Tabajara Moreno /Inpa /Divulgação)

Com mais luz do sol, Anopheles darling tem ciclo de reprodução acelerado (Foto: Inpa/Divulgação)

Em 2007, foram encontrados 1.000 mosquitos em local onde só havia 20.
Problema se agrava quando há mudança no ciclo hidrológico da floresta.
Um verão amazônico fora de época, em 2007, foi suficiente para cientistas verificarem que o aquecimento global pode multiplicar o número de casos de malária na Amazônia.

Naquele ano, o verão deveria começar só em junho ou julho, como usual, mas ocorreu já em janeiro. E o número de mosquitos transmissores da doença saltou de cerca de 20 para mais de 1.000 em um ponto específico da floresta.

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A análise de incidência do Anopheles darlingi, vetor para a malária, foi feita em um trecho do corredor florestal que recebeu os 661 quilômetros de extensão do gasoduto Urucu-Coari-Manaus, inaugurado no fim do ano passado. De 2006 a 2009, enquanto a obra avançava, cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) coletaram mosquitos com o objetivo de monitorar a incidência da doença entre os operários.

"Não registramos nenhum caso nas áreas de trabalho. Mas a construção passou por regiões com alta incidência de malária", diz o pesquisador Wanderli Pedro Tadei, vice-diretor do instituto.

"Quando houve o verão fora de época, em 2007, os rios já estavam mais cheios do que o normal. A alteração do ciclo hidrológico na Amazônia altera a reprodução do mosquito da malária, fazendo com que a população fique mais exposta à doença."

Ao terminar os cálculos para o período em que o clima estava incomum, os cientistas puderam constatar que locais com 15 a 20 mosquitos da malária, em média, registravam mais de 1.000 em fevereiro e 1.600 em março de 2007. "Foi a primeira vez em que pudemos medir isso. A malária já mostrou sua cara caso as mudancas climáticas interfiram no ciclo hidrológico da Amazônia", diz Tadei.

A Amazônia possui uma rotina regular na variação do nível de água de seus rios. Rios mais altos significam o surgimento de criadouros para o mosquito se reproduzir, já que a água invade grandes áreas nas margens, formando igapós.

Com o sol fora de época cresce a reprodução de algas nos rios por meio da fotossíntese, que servem de alimento para as larvas do Anopheles. Por isso, caso alguma alteração climática influencie esse equilíbrio, a reprodução do mosquito é acelerada.

O clima alterado também pode afetar outras espécies, como no caso do mosquito da dengue e do carapanã, como é chamado o mosquito comum na Amazônia.
O impacto de uma mudança no clima ainda pode influenciar a incidência de casos de doença de Chagas, febre amarela e outros males provenientes de vírus e vermes. Segundo Tadei, conhecer melhor essa interação do clima com a biodiversidade amazônica ajuda a prevenir possível epidemias, principalmente entre populações ribeirinhas, mais próximas dos focos do mosquito da malária.

Mudanças climáticas

De acordo com Tadei, ainda não é possível falar de mudanças climáticas na Amazônia de forma geral. "Existem mudanças extremadas, alterações de clima", diz ele. São exemplos pontuais que permitem prever o que ocorreria com a floresta se o problema se agravar no futuro.
O pesquisador lembra fenômenos climáticos na Amazônia como a enchente de 2009, a maior que se tem conhecimento até agora. Além da grande seca de 2005 e da alteração no ciclo hidrológico, em 2007. "Isso pode pode ter a ver com o El Niño, quando o Oceano Pacífico aquece", diz Tadei.


Reportagem: Jeniffer Silva

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