quinta-feira, 8 de abril de 2010

Lixo contaminado é perigo para saúde pública

Quinhentos mil brasileiros retiram de montanhas de lixo o seu sustento. São os catadores, espalhados por 63% das cidades país afora que despejam restos a céu aberto. Fonte de renda e de muita contaminação. O que você faz com as lâmpadas frias depois de queimadas? E os remédios vencidos?

Poderiam ter saído de um lixão em Vitória, no Espírito Santo, as agulhas de injeção que feriram o menino. Ingênuo, brincou com o que poderia estar contaminado. “A minha preocupação era ele ter se contaminado com uma doença gravíssima, como HIV. Até saber o resultado do exame eu não dormia”, lembra o pai do menino.

A cena é antiga, mas nem por isso menos aterrorizadora. Sobrevoar o Rio de Janeiro é confirmar: se urubus estão nas alturas, é só olhar para baixo. Nossa equipe convidou a secretaria do meio ambiente para fazer um sobrevoo pela cidade maravilhosa. Ela mostrou com exclusividade para o Bom Dia Brasil a prova do perigo que nos cerca.

“Eles trabalham de forma clandestina. Muitas vezes o caminhão chega durante a noite, ou durante o dia, quando nós fazemos a operação. Mas é uma briga de esconde-esconde. Quando a polícia sai, aí volta o caminhão. Tudo sobre o manguezal é totalmente ilegal. É impossível prever o que tem no meio desse lixo. Você não sabe de onde veio nesse lixo, como é que foi essa seleção, pode ter resíduo tóxico perigoso, descartado indevidamente, resíduos de saúde”, aponta a secretária do meio ambiente Marilene Ramos.

O estado do Rio de Janeiro tem hoje 40 lixões irregulares operados pelas próprias prefeituras dos municípios, isso sem contar os inúmeros lixões clandestinos, menores. Mas nem por isso menos perigosos.

A Baixada Fluminense tem maior índice de depósitos de lixo.

“É impossível contar porque muitas vezes eles se interconectam. Não sabemos onde começa um e onde acaba outro”, aponta a secretária do meio ambiente Marilene Ramos.

São para lugares assim que vão camas hospitalares, resíduos de curativos feitos em casa, fraldas descartáveis de pacientes. Não são todos os tatuadores que têm o cuidado que encontramos em um estúdio.

“Todo o material que entrou em contato com a pele é jogado fora. Tem que contratar uma firma especializada em coleta de lixo contaminado. É obrigação da pessoa que quer contratar o serviço saber o destino do lixo”, comenta o tatuador.

Custa caro dar destino final correto. Fica entre R$ 1,6 mil e R$ 2,2 mil a tonelada. É preciso alta temperatura para transformar o lixo contaminado em material que possa ser depositado no aterro sanitário.

“Sabemos que existem empresas e empresas. Ou seja, você me contrata para prestar um serviço, porém na hora de destinar, no meio do caminho, a empresa decide jogar em um lixão para não pagar a destinação”, diz o doutorando da Coppe-UFRJ Zilton Fonseca.

A Agência Nacional de Saúde obriga: a empresa que produz é responsável pelo destino final do lixo contaminado. E aquele que sai das nossas casas? Nada garante que os resíduos postos em caixas irão para lugares seguros.

“No Brasil não temos aterro sanitário para todos os municípios. O aterro sanitário que hoje está no Brasil, a maioria é o lixão, que não é um local recomendado para colocar esse resíduo. Existe uma dificuldade clara dos geradores de serviços de saúde de colocar esse resíduo mesmo tratado num aterro sanitário”, aponta Luiz Carlos da Fonseca, da Anvisa.

Enquanto isso, as ameaças de contaminação continuam. O meio ambiente já está pagando um preço bastante alto.



Na foz do São João de Meriti, um dos rios mais importantes para o ecossistema da Baía de Guanabara, não há mais vida. O lixo e o esgoto eliminaram todo o oxigênio da água dos principais rios que rodeiam a baía. Sete já morreram.

Todos os meses são retirados, só em um trecho da Baía de Guanabara, de 20 a 25 toneladas de lixo doméstico e hospitalar. No meio do manguezal, seu habitat natural, até o caranguejo sabe que daqui para frente é risco de vida.

“Esse material, em hipótese alguma, poderia estar sendo jogado dentro dos rios e muito menos vindo parar na Baía de Guanabara e nos outros manguezais. Até porque muita gente está nos manguezais capturando os caranguejos e está se contaminando. Pode se furar em uma seringa e isso não é raro de encontrar no mangue”, alerta o ambientalista Mário Moscatelli.

O Brasil tem um compromisso internacional: até 2016, ano das Olimpíadas, terá que dar um final correto para o lixo. O governo do Rio de Janeiro garante que tem solução. Até lá, ficamos à mercê do Deus dará.

Reportagem: Jeniffer Silva
Foto: Assessoria de Imprensa da Comlurb

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